quinta-feira, 4 de março de 2010

Vontade de Viver

Ter vontade de viver nem sempre é fácil e com a sociedade egocentrica a que assistimos todos os dias nas conversas banais que temos com quem nos rodeia é dificil arranjar motivos...
Existem palavras que foram esquecidas, palavras que constam no dicionário português mas que estão no fim desse mesmo dicionário, palavras tão fáceis de escrever, ler ou pronunciar mas que cujo significado encontra se escondido e que ninguém tem curiosidade de descobrir...
A bondade, partilha, solidariedade são termos esquecidos e nem mesmo os que os ouvem quase diariamente já sabem o que significa, muitas vezes a justificação para esquece los são porque um dia alguém também os desvalorizou mas será isso justificação?
Acredito que não e muitas vezes mesmo lidando diariamente com quem não soube aproveitar uma oportunidade nos faz recordar que demos essa mesma oportunidade e isso faz de nós seres Humanos com sentimentos nobres e pertencentes a uma classe que cada vez escassa mais na nossa sociedade...
Falamos de pessoas que se sensibilizam com a morte de centenas de pessoas por ter existido uma catastrofe natural ou que reencaminham emails que denunciam maus tratos a animais mas que ficam indiferentes perante as pessoas que dormem nas ruas mesmo ao lado de casa ou que ficam apaticos perante uma dificuldade de um vizinho...
Há uma pessoa que apesar de ter escolhido o caminho errado me faz acreditar que eu estou no caminho certo, um mulher que neste momento luta contra a fome o frio e que vive na rua por escolha própria mas que cada vez que me pede uma moeda lembra me que tudo o que fiz por ela foi o correcto e não me arrependo de nada porque só pelos poucos momentos de felicidade que lhe proporcionei, valeu a pena...
Quando nos conhecemos eramos ambas jovens e acreditavamos piamente que os estudos eram o caminho para o equilibrio e estabilidade, ela com mais dificuldades do que eu lutava diariamente contra os maus tratos fisicos e psicologicos de um pai e uma madrasta que, eles próprios, não possuiam qualquer estabilidade psicologica ou financeira.
Concluiamos então o 12º ano uma altura decisiva para as nossas vidas, no entanto ela com as complicações naturais de quem vive numa familia destruturada, não conseguia tirar resultados satisfatorios, ajudei a então como pude, na altura ambas iamos para a biblioteca municipal onde estudavamos juntas para tentar ultrapassar as dificuldades dela...
Apesar do seu esforço, não conseguiu e reprovou o ano, no entanto e com a vontade de viver de então abandonou a escola e escolheu um outro caminho mais ou menos objectivado...
Arranjou um emprego e como era insuportavel estar numa casa tão destruturada, ajudei a a arranjar uma casa onde ela poderia estar até conseguir equilibrar toda a restante vida...
Foi então que após uns meses a trabalhar que ela se perdeu num outro mundo, aquele que é muito fácil entrar e dificilmente alguém sai com vida, o da toxicodependencia...
A partir daquela altura o pouco que ela tinha construido, e "pouco" para os que não conseguem alcançar a dificuldade acrescida de se conseguir trabalho e casa para morar, ela perdeu tudo isso, acabou por ser despedida pois não conseguia cumprir quase nada e perdeu também o local onde estava a morar por não ser aparentemente de confiança...
Ainda ficou grávida teve na altura um bébé que lhe foi retirado à nascença e ainda foi atirada novamente para as ruas onde nos tempos actuais pede uma moeda nos parques de estacionamento...
Quando me vê, apesar de estar completamente degradada fisica e psicologicamente ainda me reconhece e noto no seu olhar que reconhece algo de si própria, esboça sempre um sorriso quase como esperançado por breves segundos e é por isso que lhe agradeço por aquilo que me ensinou, a compensação de ajudar os outros vem de dentro de nós...

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